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Imprecisão bíblica e João 3:16 (parte 5 de 5) |
Para recapitular, nos últimos quatro episódios dessa série discutimos o seguinte em relação João 3:16"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que aquele que nele crê não pereça mas tenha vida eterna." 1) O evangelho conhecido como "João" quase que certamente não foi escrito pelo discípulo João; 2) Em João 3:16, como em todos os outros lugares na Bíblia, os tradutores ilegitimamente colocaram maiúsculas em "ele", para fazer com que Jesus parecesse Deus; 3) Como a Bíblia é inconsistente internamente e não confiável quando se trata de fatos, não atende aos requisitos básicos esperados de uma escritura sagrada; 4) A ideologia fundamental (a crucificação, ressurreição e o sacrifício da expiação) são tão falhos que não podemos de maneira razoável nos apoiar em João 3:16 (ou, na Bíblia como um todo) para a salvação. O que nos traz para uma discussão de por que alguém acredita que João 3:16 é verdadeiro, com tanta evidência em contrário. O fato simples é que João 3:16 apela aos cristãos, verdadeiro ou não. Nos episódios anteriores nessa série, discuti apenas algumas falácias do conceito do sacrifício de expiação de Jesus. Deixei o melhor por último é aqui está: De acordo com a Bíblia, Deus não quer um sacrifício. Agora, deixemos de lado os argumentos do bom senso (que perdão não tem um preço; que uma pessoa não pode fazer expiação por outra; que se Deus tivesse querido, teria perdoado a humanidade somente com base nisso, etc.) e nos apoiarmos exclusivamente no fato de que a Bíblia nos diz que Deus não quer sacrifício, em primeiro lugar: Oséias 6:6 lê: "Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício. " Esse é o Velho Testamento, mas Mateus 9:13 e 12:7 fazem referência a esse versículo e isso se aplica ao Novo Testamento também. Então, qual é o argumento? Que Deus precisava de um sacrifício que Ele nem quer? Esse conceito é problemático, no mínimo. Existem muitas outras razões por que não devemos acreditar em João 3:16 e uma das melhores não é que não podemos acreditar em João 3:16, mas que não podemos estar certos sobre qualquer coisa no "evangelho de João". Apesar do fato de que ninguém saber quem é o autor de "João", o Jesus Seminar analisou as palavras atribuídas a Jesus no evangelho de João e "foram incapazes de encontrar um único dito que pudessem rastrear com certeza ao Jesus histórico... As palavras atribuídas a Jesus no Quarto Evangelho são, na maioria, a criação do evangelista."[1] Agora, por que "o evangelista" faria tal coisa? Nos é dito a razão: "Os seguidores de Jesus estavam inclinados a adotar e adaptar suas palavras para suas próprias necessidades. Isso os levou a inventar contextos narrativos baseados em suas próprias experiências, nas quais importaram Jesus como uma figura de autoridade."[2] O Jesus Seminar documenta centenas de exemplos nos livros do Evangelho, inclusive casos nos quais "os seguidores de Jesus tomaram emprestado livremente sabedoria comum e cunharam seus próprios ditos e parábolas, que então atribuíram a Jesus."[3] Isso não tira a credibilidade apenas de João 3:16, mas de fato de todo o João. Por extensão, se a Bíblia está repleta de contradições, como podemos saber o que é verdadeiro e o que não é - em qualquer lugar na Bíblia? Como diz o velho ditado, não é o apito que puxa o trem. Os cristãos podem gostar de como João 3:16 soa, mas isso não o torna verdadeiro. De fato, quanto mais examinamos o versículo, mais razões encontramos para desacreditar nele. Outro antigo ditado é que a isca esconde o anzol. João 3:16 é a isca, por meio da qual os evangelistas esperam jogar o anzol e enrolar as pessoas em suas conclusões presunçosas e inteiramente ilegítimas. Eles nos dizem que Deus deu Seu "único filho", sem analisar criticamente esse conceito. Se Jesus é o "único filho de Deus", por que Salmos 2:7 diz isso sobre Davi: "O Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei." Jesus o "único filho de Deus" com Davi, um "filho", "gerado" por Deus quarenta gerações antes? A Bíblia só pode ter um "único" de algo, mas não dois "únicos" da mesma coisa! A Bíblia descrever muitas pessoas, Israel e Adão incluídos, como "filhos de Deus." Tanto em 2 Samuel 7:13-14 quanto em 1 Crônicas 22:10 se lê, "Este (Salomão) edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho." Na Bíblia, "único gerado" é traduzido do grego antigo monogenes.[4] E ainda assim, "Isaque é monogenes em Hebreus 11:17."[5] Ismael nasceu quatorze anos antes de Isaque e ambos estavam vivos quando o pai, Abraão, morreu. Em momento algum Isaque foi o "único filho gerado" de Abraão. Então "único gerado" é uma má tradução de monogenes ou Hebreus 11:17 é um erro? Se é uma má tradução, então João 3:16 deve estar mal traduzido também. Se é um erro, não podemos confiar na Bíblia como um todo (um refrão repetitivo nessas discussões). Georgie Pettie uma vez corrigiu um provérbio antigo: "Errar é humano, perdoar é divino..." adicionando "e persistir no erro é burrice." A atitude presunçosa dos seguidores de João 3:16 "tenho o Espírito Santo dentro de mim e não posso errar" é ofensiva por muitas razões, tanto quanto é errada. Por um lado, soa muito como a máximo do advogado para argumentar fatos e leis quando servem o propósito e gritar quando não servem. Se me permitirem ecoar a conclusão de Voltaire: A dúvida não é uma condição agradável, mas certeza em face de evidência em contrário é absolutamente absurdo. Apesar da força da evidência contra João 3:16, a maioria dos cristãos se recusa a reconhecer a ilegitimidade do versículo. E talvez não cristãos devam aceitar isso. Em Mateus 5:9 Jesus diz, "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus." Então, talvez, devamos esquecer de tentar ganhar esse argumento e fazer as pazes. Não podemos nos unir nas crenças, então pelo menos vamos nos unir em atos gentis e caritativos. Tornemo-nos os "pacificadores bem-aventurados" que são chamados de "filhos de Deus". Então, destaquemos que esse é apenas mais um versículo bíblico que contradiz o conceito exclusivo de "filho de Deus" de João 3:16. Nada diz que não podemos fazer a paz e continuar a enfatizar nosso ponto de maneira educada ao mesmo tempo. Mas isso, para mim, é um elemento importante de qualquer diálogo religioso: Mantenha-o leve e educado, mas mantenha o foco.
Sobre o autor: Laurence B. Brown, MD, é autor de vários artigos e livros e seu website oficial é www.leveltruth.com onde também pode ser contatado na página "Contato". Notas de rodapé: [1] Funk, Robert W., Roy W. Hoover, and the Jesus Seminar. The Five Gospels: The Search for the Authentic Words of Jesus. p. 10. [2] Funk, Robert W., p. 21. [3] Funk, Robert W., p. 22. [4] Kittel, Gerhard and Gerhard Friedrich (editores). 1985. Theological Dictionary of the New Testament. Traduzido por Geoffrey W. Bromiley. William B. Eerdmans Publishing Co., Paternoster Press Ltd. p. 607. [5]Ibid |
· Enviado por admin em 16/07/2017 19:02 · 2035 Leituras · |
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